“Se existe uma esfera do poder em que a palavra estabilidade não deve se aplicar de forma permanente, é na política. Por ser formada e conduzida a partir de decisões humanas, onde vários fatores interferem na escolha final, nada pode ser tido como definitivo ou concreto o suficiente para dar qualquer prognóstico de futuro. Um exemplo dessa volatilidade é o agora ex-presidente da Câmara Federal Rodrigo Maia.
Tido como um deputado pouco relevante em seus mandatos por muitos anos, acompanhando o processo de recaída do seu partido DEM durante o período em que as forças de esquerda governaram o país, foi, aos poucos, ganhando notoriedade enquanto líder da bancada do DEM e fazendo duras críticas aos governos Lula e Dilma. Tinha garantido seu espaço nas reportagens que tratavam sobre o dia dia e relacionamento entre Congresso e Palácio do Planalto.
Seu grande período de ascensão deu-se ao assumir provisoriamente a presidência da Câmara em decorrência da prisão de Eduardo Cunha (MDB), e consequentemente, ser eleito de forma permanente. A partir de então, adaptou-se ao cargo que representava e passou a ser cada vez mais enfático em seus posicionamentos e negociações, demonstrando um bom desempenho na articulação política entre os poderes e projetando-se como uma das lideranças do país em um momento onde tais figuras foram perdendo cada vez mais credibilidade e espaço. Inclusive, tendo o nome cogitado a disputar a presidência do país em 2022.
Entretanto, os rumos da política são muito imprecisos e a demonstração disso foi a acachapante derrota na escolha do novo presidente da Casa, onde não conseguiu eleger um sucessor. A lógica até garantiria isso, mas a conjuntura fez com que Arthur Lira (PP), o Centrão e o presidente Bolsonaro, fossem os grandes vencedores na disputa. Os traumas são tão intensos que existe até a possibilidade de saída do DEM, algo inimaginável há 3, 4 meses.
Mais difícil ainda é imaginar qual será o seu papel enquanto agente político a partir de agora. Deve, sim, se reeleger deputado federal, mas que papel irá ocupar nesse inebriante jogo de xadrez? Pode fazer o caminho inverso e voltar a uma condição menos representativa, ou dar a volta por cima se posicionar como líder que foi durante os últimos anos. É complicado prever, mas o que se pode afirmar é que, no jogo da política, uma das poucas certezas é de que estabilidade é uma palavra que pouco deve ser usada em suas regras.”
Vinícius Gomes
Jornalista, produtor de conteúdo e pós-graduando em Ciência Política