“Temos nos deparado com pessoas que dizem que 2020 foi um ano que não existiu. Um ano que deve ser esquecido e apagado do calendário. Esses desabafos são legitimados pelo duro sofrimento purgado por tantas famílias espalhadas por todo o planeta em razão do Covid-19. Definitivamente 2020 chega ao fim trazendo, além de inegáveis desafios, um aprendizado de vida.
Fomos e estamos sendo testados em nossos medos, anseios, expectativas e sonhos. Nossa noção e concepção da realidade foram colocadas à prova. Nossa capacidade de adaptação e reação também.
Chegamos à reta final do ano vivenciando uma nova aceleração do vírus, que parece que tudo pode e que se comporta de forma diferente entre as pessoas. Por outro lado, o dia a dia revela uma desobediência de parte da população às normas de conduta preconizados pela saúde pública e pela ciência. As boas notícias chegam pelo avanço de pioneiras vacinas que podem nos levar a um novo estágio de convivência segura com esse vírus.
A verdade da vida faz com que mudem-se os tempos, desdobrem etapas, contabilizem baixas muito sentidas, registrem-se os desafios vencidos, mas fique a certeza que tudo em cada sentença é aprendizado. Malgrado o que temos passado e vivido, esse texto é de esperança e resiliência. Ele pede sabedoria.
Vivi a maior parte de minha vida no século XX, respeitando os fatos que me antecederam com os pés no chão, olhos para o futuro e a compressão do que poderia ajudar a mudar, ou não, em cada circunstância e encruzilhada. Foi naquele século em que a humanidade sofreu com duas grandes guerras mundiais, padeceu com a gripe espanhola, viveu aguda crise na economia em 1929, a guerra fria e os conflitos da Coreia e Vietnã.
Quando vencida a atual pandemia, permanecera todo resto que por si é um desafio gigantesco. Se hoje a aproximação, o abraço e a convivência estão sendo evitados, bem antes o vírus da indiferença, do individualismo possessivo, da miséria, continua a se manter sem vacinas ou medicamentos terapêuticos. Sim, podemos também fazer muita coisa para melhorar essa triste imperfeição da natureza humana.
Aproveito a oportunidade para neste mês de dezembro repetir com confiança as palavras de Augusto dos Anjos, “A Esperança não murcha, ela não cansa. Também como ela não sucumbe à crença. Vão-se sonhos nas asas da descrença. Voltam sonhos nas asas da esperança”.
Jarbas Vasconcelos
Senador da República