Menos flores, mais mudança

Opinião
Publicado por Américo Rodrigo
8 de março de 2022 às 07h30min
Foto: Pablo Valadares

Por Milton Coelho*

A escritora e jornalista Svetlana Aleksiévithc dedicou parte expressiva da sua obra a dar vida literária às vozes de sobreviventes de guerra. Em “A Guerra não tem Rosto de Mulher”, publicação de 1983 lançada no Brasil em 2016, a autora traz à cena a profunda e traumática vivência das mulheres russas que lutaram na Segunda Guerra Mundial. É um livro difícil de ler, porque nos joga na cara a tragédia da guerra nas trajetórias individuais e na subjetividade feminina. É um soco no estômago.

Parafraseando a autora, as servidoras públicas Elisabeth Hernandes e Luciana Vieira, nos brindaram em 2021 com o artigo “A Guerra tem Rosto de Mulher”, em que nos mostram a importância feminina na batalha contra a Covid-19.  Praticamente 79% dos profissionais da atenção básica em saúde são mulheres, percentual que supera 85% entre enfermeiras, técnicas e auxiliares de enfermagem. Isso basicamente significa que devemos às mulheres parte importantíssima do enfrentamento da pandemia no Brasil.

Mulheres lutaram nas guerras, perderam suas vidas, seus sonhos, suas famílias, mas os registros históricos não lhes deram voz. Mulheres lutaram arduamente para nos salvar de uma pandemia que nos ceifou mais de 600 mil cidadãs e cidadãos brasileiros, e receberam inexpressivo reconhecimento público. E agora assistem à uma nova guerra assombrar o mundo. Uma nova guerra, como as demais, forjada pelas ações ou omissões de nós, homens.

E nós – estes homens que historicamente as silenciamos – seguimos muitas vezes e de forma irrefletida abafando o significado do dia 08 de março com flores, bombons e frases de efeito depreciadoras da condição feminina. “Mulher, parabéns pelo teu dia, tu que és uma rosa” – dirão alguns. “Mulher, tu és a graça do mundo”, afirmarão outros em tom de louvor.

Pois passou da hora de nós ecoarmos que 08 de março é símbolo da coragem feminina na luta por direitos sociais. E de aproveitarmos esse dia, como todos os outros de nossas vidas, para nos reeducar em direção à igualdade de gênero. Vamos refletir sobre todas as palavras, gestos e atitudes de cunho machista que tivemos ao longo de nossa trajetória e nos comprometer, concreta e diariamente, com a mudança.

Tal como a luta antirracista precisa ser incorporada de forma ampla e irrestrita, também é assim a batalha contra o preconceito de gênero e as demais iniquidades que impedem a construção de um mundo onde todas, todos e todes possam viver com dignidade. É esta guerra, em favor da igualdade, a única que pode nos salvar do banho de sangue em que nos enfiamos. É esta a única guerra que nos levará à paz.

Às leitoras, meu reconhecimento por sua força e meu agradecimento por todo o aprendizado. Aos leitores, meu convite para sigamos engajados, em pensamento e prática, na batalha pela igualdade.

*Milton Coelho
Deputado federal

Américo Rodrigo

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