A vereadora Liana Cirne (PT) apresentou, nesta sexta-feira (21), projeto de lei em homenagem à cantora e compositora Elza Soares, um dos maiores nomes da música popular brasileira e ícone na luta feminista e antirracista, que faleceu no último dia 20. A proposta é dar o nome de Elza à atual “Praça do Campo Santo”, localizada no bairro de Santo Amaro.
A escolha do local tem um propósito bem definido. É nesta praça que está localizada a 1ª Delegacia de Polícia Especializada da Mulher de Pernambuco. “Elza militou a vida inteira em defesa dos direitos das mulheres, em especial das mulheres negras, pobres e suburbanas. Ela sabia o peso e a dor causada pela violência, pela pobreza, pelo machismo, pelo racismo. E por isso transformou sua vida e sua arte. Sua existência e sua arte eram, para ela, atos políticos. Por isso decidimos dar o nome de Elza à Praça em que se situa a Delegacia da Mulher, local que simboliza resistência e combate às violências contra as mulheres. Elza e suas músicas são importantes ícones de empoderamento das mulheres”, afirmou Liana.
Liana ainda justificou que a homenagem também objetiva corrigir a falta de proporcionalidade entre o número de logradouros com nomes de mulheres e de homens. Apenas 5% das ruas do Recife possuem nomes de mulheres.
Na justificativa do projeto de lei, a parlamentar citou algumas das letras de suas músicas preferidas: Dura na Queda, A Carne, Maria da Vila Matilde (Eu vou ligar pro 180).
No trecho de Dura na Queda, música que Chico Buarque compôs para ela, um verso resume bem a trajetória de vida de Elza: “a flor também é ferida aberta e não se vê chorar”, conclui Liana.
Memória
Falecida na última quinta-feira (20), Elza sofreu inúmeras violências durante sua vida, não só por parte dos seus ex-companheiros, como também por seu pai. Diante disso e da sua luta pelo empoderamento feminino, tornou-se um símbolo da resistência feminista e antirracista e uma referência na luta em defesa dos direitos das mulheres. Elza Soares revolucionou e marcou a cultura brasileira e está presente na realidade de grande parte das cidadãs e cidadãos do nosso país.
A infância de Elza Soares foi extremamente conturbada. De uma família composta por 10 irmãos, foi obrigada por seu pai a casar-se aos 12 anos e teve seu primeiro filho aos 13 que, devido a complicações, morreu poucas semanas após o nascimento. Aos 21 anos ficou viúva e, em 1966, casou novamente e teve oito filhos.
Planeta fome
Elza estreou em um Programa de Calouros, de Ary Barroso, que em tom jocoso lhe perguntou: “De que planeta você veio, minha filha?”. Magra e mal vestida, a plateia começou a rir. “Vim do mesmo planeta que o Senhor”, devolveu Elza. Questionada pelo apresentador qual seria o ‘planeta’, Elza foi ainda mais grave: “Do ‘planeta fome’, seu Ary”.