Uma rápida análise das redes sociais nas eleições de 2020 em Caruaru

Cenário Político
Publicado por Américo Rodrigo
14 de agosto de 2020 às 08h00min
Foto: Divulgação/Asces-Unita

“Que as redes sociais se tornariam espaços cada vez mais importantes para o processo eleitoral todos nós já sabíamos. O que não se sabia era que a pandemia iria antecipar essa realidade. As campanhas baseadas em mobilização de massa em caminhadas, carreatas e comícios sofreram um grande revés este ano. Por outro lado, quem já trabalhava as suas redes sociais como espaços para relacionamento e interação com os eleitores deve sair com vantagem este ano.

A pandemia alterou significativamente os hábitos de consumo das pessoas. As redes sociais são espaços de venda e de empreendedorismo. Cada vez mais pessoas compram bens e são influenciadas a consumir. Com a política está acontecendo o mesmo. As pessoas também estão consumindo conteúdo político por meio das redes sociais. Até a análise política precisa se ajustar ao novo momento e considerar as redes sociais um elemento de análise. O uso de inteligência artificial também ajuda a compreender os movimentos políticos nas redes e pretendo utilizar esta ferramenta para analisar as redes dos principais pré-candidatos de Caruaru.

De acordo com o Global Digital Report de 2019, o Brasil possui 149 milhões de pessoas conectadas à internet. Destes, 139 milhões possuem uma conta no Facebook, 120 milhões usam o WhatsApp e 69 milhões de brasileiros possuem uma conta no Instagram. No caso de Caruaru, o Facebook e o Instagram possuem em torno de 300 mil perfis, para cada uma das redes. O que perfaz um público total de 600 mil perfis.

Para analisar os nossos pré-candidatos, escolhi as duas principais redes sociais da atualidade: Facebook e Instagram. O período de análise foi de 21 de julho ao dia 07 de agosto. E escolhi duas métricas para esta pequena análise: número de seguidores e engajamento por postagem.

O número de seguidores é um indicador interessante, embora possa ser burlado pela compra de seguidores, mas serve para compreender o tamanho do público-alvo que cada perfil pode alcançar. Porém, a média do engajamento por postagem é mais importante porque revela o tamanho da interação dos seguidores com o conteúdo apresentado na rede.

O engajamento é o número de vezes que os seguidores interagiram com a postagem – curtindo, comentando ou compartilhando – e demonstra o nível real de interação dos seguidores com o perfil e seu conteúdo. Vou apresentar esses números para que possamos analisar o seu sentido.

A média engajamento por postagem varia de acordo com a quantidade de postagens. Raquel Lyra dispara em relação aos demais em número de seguidores e no engajamento médio de postagens. A nível de interação entre os seus seguidores e o conteúdo apresentado é grande, pois no período analisado foram 26 postagens no Instagram com média de 2498 interações por postagens, enquanto no Facebook foram 30 postagens com média de 1251 interações.

Os demais pré-candidatos apresentam níveis bem menores de interação. O melhor posicionado depois de Raquel é o Delegado Lessa. No caso dos dois – Raquel e Lessa – os conteúdos que geraram maior interação no período analisado foram relacionados a família. No caso de Zé Queiroz e Tony Gel as postagens giram em torno de tbts e prestação de contas do mandato.

Chama atenção o fato de que Raffiê utilizou apenas o Instagram no período analisado. A sua fanpage no Facebook ficou sem atividade em contraste com os demais pré-candidatos que utilizaram a plataforma e buscaram interagir com o público. Isso é algo importante, pois uma parte do público acima dos 45 anos ainda prefere o Facebook como plataforma para consumo de informação. Já o Instagram tem um perfil mais jovem e mais dinâmico, com menos texto e mais imagens e vídeos curtos.

O maior desafio de utilizar as redes sociais como espaço político é a geração de conteúdo. As redes servem para criar relacionamentos entre as pessoas. Cabe aos pré-candidatos produzir um conteúdo político que dialogue com o seguidor, que permita que ele se identifique e que sinta vontade de interagir com este conteúdo.

Estratégias que eram adotadas anteriormente, como o uso de cards em datas comemorativas tem tido cada vez menos engajamento para a política. Esse tipo de conteúdo não produz a mesma reação de um pequeno vídeo com posicionamento político ou de um conteúdo ligado à família e a história pessoal do pré-candidato.

Pelo visto as eleições de 2020 prometem apresentar desafios novos a cada dia”.

Vanuccio Pimentel
Doutor em Ciência Política
Consultor do IGPública
Professor ASCES-UNITA

Américo Rodrigo

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