“A primeira lembrança que tenho de Zé Queiroz remonta aos anos 90, quando ele ainda exercia o seu segundo mandato de prefeito. Eu brincava na rua quando um morador gritou em direção a um carro que passava: Olha o IPTU, Zé Queiroz! No mesmo instante o carro parou e deu ré. No banco do passageiro da D20 Veraneio Cinza estava Zé Queiroz que prontamente se dirigiu ao morador para ouvir as suas queixas sobre o IPTU.
Não há dúvidas de que nos quatro mandatos que exerceu ele deixou marcas indeléveis na cidade e no processo político. Os últimos dois mandatos talvez tenham sido os mais importantes. Em 2009, Zé Queiroz assumiu uma cidade em situação dramática deixada pela gestão Neguinho Teixeira. O mandato 2009-2012 foi muito complicado, pois a estrutura administrativa deixada era absolutamente precária e as demandas acumuladas na cidade eram enormes.
O mandato 2013-2016 começa em clima completamente diferente. Superadas as dificuldades do primeiro mandato e os contratempos na campanha, a gestão ganhou outro ritmo e conseguiu consolidar inúmeros avanços em todas as áreas. Contrariando o que ocorria na maioria dos governos reeleitos, o segundo mandato conseguia ser muito melhor do que o primeiro e a aprovação popular de Zé Queiroz era altíssima. Mas, apesar de reunir todas as condições para uma sucessão vitoriosa, ele não conseguiu eleger seu sucessor.
Queiroz colocou em movimento uma estratégia complexa e arriscada. Adiou a divulgação do seu sucessor durante muito tempo e tratou de inviabilizar a candidatura de Raquel Lyra pelo PSB, o que provocou uma avalanche de movimentos culminando com a ida de Raquel para o PSDB. O resultado foi o pior possível para ele. A eleição de Raquel representou uma derrota política contundente. Não há como relativizar isso.
O desafio que enfrenta em 2020 é incomparavelmente maior do que aquele de 2016. Em primeiro lugar, caso seja candidato, Queiroz precisa enfrentar o resultado de sua própria estratégia malograda na última eleição. Segundo, precisa trazer à tona as falhas de governo (e não são poucas) que são eclipsadas pelo bom desempenho midiático da prefeita e pela ausência de uma oposição organizada das principais forças políticas da cidade.
Por fim, o mais importante de tudo, é recompor uma frente de partidos capaz de representar uma ameaça real ao projeto de reeleição de Raquel. Essa será a única maneira de trazê-la para a arena de negociação. Caso não consiga, Queiroz tende a ser ignorado novamente, como ela fez depois que venceu as eleições.”
Vanuccio Pimentel
Doutor em Ciência Política
Professor da ASCES-UNITA