“As eleições de 2020 estão chegando em um contexto de absoluta incerteza. Ainda estamos em plena pandemia e sem nenhuma ideia de como a opinião pública vai se comportar ao longo da campanha até o dia da eleição. Aliás, sequer sabemos se o dia da eleição será mantido. No entanto, alguns movimentos do processo político da cidade se desenvolveram na eleição passada e contribuíram para desenhar o quadro político mais geral que temos hoje.
Dois movimentos ocorreram nas eleições de 2016 que redesenharam o quadro político de Caruaru. O primeiro foi o surgimento de uma nova força política competitiva representada pelo Delegado Lessa. E o segundo movimento foi a vitória de Raquel Lyra.
Como sabemos, os Lyra são uma família de larga tradição na política caruaruense e a vitória de Raquel se insere nesta tradição dando sobrevida ao legado familiar na cidade. Mas, apesar destas continuidades, a vitória de Raquel representou uma ruptura geracional na política de Caruaru. E talvez esse movimento ainda seja pouco compreendido pelas demais forças políticas.
Os espaços para as rupturas geracionais na política são raros, e muitas vezes, acontecem em meio a crises levando a rupturas mais profundas na dinâmica do processo político. E na atualidade os novos contornos das relações geracionais extrapolam o âmbito privado e avançam sobre a esfera pública – especialmente com a massificação das redes sociais – produzindo efeitos em cadeia que repercutem em toda a dinâmica da política.
Nesse contexto, parece que as demais forças políticas ainda não se deram conta completamente do que Raquel representa. Ela é uma mulher jovem, com forte treinamento midiático, que sabe usar elementos psicodramáticos em suas intervenções e que fala para uma massa jovem e conectada nas redes sociais. A sua linguagem é simples, espontânea, sem rebuscamento e bastante objetiva.
Este perfil de político conectado e com inúmeras habilidades comunicacionais desenvolvidas é completamente diferente do estilo radialista representado por Tony Gel e Zé Queiroz. As redes sociais têm se consolidado como um veículo central para difusão da mensagem política e para o engajamento dos apoiadores e potenciais eleitores. E neste novo veículo de comunicação falar bem, fazer discurso e ter voz entonada não é suficiente para construir uma boa mensagem.
Assim, em uma cidade cada vez mais cosmopolita e conectada, e com o eleitorado jovem em expansão, não surpreende que Raquel Lyra supere todos os seus oponentes em engajamento nas redes sociais. Quase 40% do eleitorado de Caruaru possui entre 18 e 34 anos e conquistar este grupo de eleitores deveria ser prioridade de todos os postulantes. E o maior sinal de que as demais forças políticas tradicionais da cidade não estão preparadas para disputar este perfil do eleitorado é o uso quase protocolar das redes sociais.
A única certeza que se tem, em processos de ruptura geracional, é que não há espaço para retorno ao passado. As coisas não serão mais como antes, não apenas porque há políticos mais jovem na praça, mas porque a própria expectativa do eleitor muda junto com o cenário político. As eleições deste ano em Caruaru podem se apresentar com estes contornos geracionais bem definidos: de um lado os candidatos mais jovens e conectados, e do outro lado, os candidatos mais velhos e desconectados.”
Vanuccio Pimentel
Doutor em Ciência Política
Professor da ASCES-UNITA