“A sociedade brasileira enfrenta um dos momentos mais desafiadores da história recente. Se por um lado temos um inimigo invisível e devastador denominado Coronavírus, por outro temos os desafios da manutenção dos postos de trabalho, de reerguimento da economia, além de termos que lidar todos os dias com um turbilhão de informações pouco convincentes, do núcleos de decisões políticas que estão localizados em Brasília.
Mesmo que insistamos em negar a política por razões de conveniência, ou até mesmo por uma vã tentativa de buscar uma paz ilusória em momentos de turbulência social, não se pode negar que a política é sem dúvidas, o instrumento de transformação e mudança que mais devemos explorar e utilizar em momentos de estabilidades sociais e democráticas. Aliás, o que evidencia nossas diferenças em relação aos países “civilizados” e avançados em termos culturais e educacionais é a forma com que essas nações tratam e vivenciam a política.
Estamos a quem do nível e consciência social e política necessárias a um comportamento digno de observação e assimilação de uma realidade que exige de todos nós, esforços na tentativa de compreender qual o papel da política, das empresas, das instituições e, sobretudo do cidadão que a cada quatro anos se desloca de sua casa para decidir que tipo de cidade ele deseja, por via do voto direto, secreto, universal e periódico.
Em vista disso tudo que é vivenciado no dia a dia das prefeituras, câmaras municipais, assembleias legislativas, sedes de governos estaduais e de forma elementar no Congresso Nacional e Presidência República, refletem mais do que o voto “depositado” em uma urna eletrônica no dia da eleição.
Esse voto representa o ideal de cidade, estado e país que você escolheu. Se nos dias atuais temos conflitos e desarranjos que para alguns causam perplexidades e para outros admiração no trato muitas vezes desrespeitoso com as palavras e os rituais existentes em uma República Presidencialista, tudo isso é fruto da das nossas escolhas no dia da eleição.
Portanto, mesmo não sendo consensual, defendo de forma serena a realização das eleições municipais 2020, por ser o momento o qual o cidadão da periferia ou da classe média, decidem cada uma a seu modo, os destinos de uma cidade por mais quatro anos, seja mantendo os gestores que tem direito a reeleição ou renovando o comando da administração pública, colocando no lugar outros protagonistas.
Não podemos esquecer que os desafios são enormes em razão dos números de contágio da COVID-19, qual tem se tornado o elemento limitador da realização do processo eleitoral pleno, nos moldes do calendário eleitoral apresentado pelo TSE.
Essa é a hora da política, dos políticos, das instituições e mais ainda do eleitor e cidadão se reinventarem na forma e no modo de fortalecer a democracia, não permitindo que o direito fundamental ao voto, de forma secreta, universal e periódica, seja retirado do ambiente democrático, sem qualquer possibilidade de ampliação de mandatos eletivos que não seja pelas vias da continuidade e estabilidade democráticas. Todas as mudanças estruturais que a sociedade requer e precisa devem passar pelo processo democrático das eleições.”
Bruno Martins
Advogado eleitoral
Coordenador Geral do CENALEG – Centro de Apoio ao Legislativo