Artigo: Ciro Gomes e a Sulanca de Caruaru

Notícias
Publicado por Américo Rodrigo
7 de novembro de 2019 às 14h44min
Foto: Marcelo Camargo

“A fala de Ciro Gomes sobre a Feira da Sulanca de Caruaru na última segunda-feira (4), na rádio Jovem Pan, causou a reação em muitos sites de notícias. O que muitos não sabem é que não é a primeira vez que ex-presidenciável fala sobre a Sulanca. Pelo contrário, o ex-governador já visitou Caruaru diversas vezes e costuma citar a feira em seus debates pelo Brasil. A romantização com que alguns veículos reagiram à exposição do trabalho informal generalizado que impera no setor produtivo e de vendas, tanto na Feira de Caruaru como em outras pelo Agreste, demonstra o funcionamento do discurso de precarização dos direitos dos trabalhadores travestido de “empreendedorismo heroico”.

O valor histórico, cultural e econômico da Feira de Caruaru é imensurável, e isso não foi questionado em nenhum momento da entrevista. No entanto, não falar sobre uma realidade de exploração do trabalho sem direitos, sem garantia de jornada de trabalho de oito horas diárias, sem sistema previdenciário ou cidadania, é falta de honestidade. O maior distribuidor de renda no país mais desigual do mundo é o salário mínimo, garanti-lo é um dever.

O ponto principal da fala de Ciro se dá através da análise de como a precarização do trabalho e a informalidade são um problema para o Brasil, não uma solução. O estudo “CARACTERIZAÇÃO DA ECONOMIA INFORMAL NO PÓLO DE CONFECÇÕES DO AGRESTE PERNAMBUCANO”, realizado por alunos de iniciação cientifica da UFPE em 2010, já alertava e desenhava o perfil dos trabalhadores do polo de confecções do agreste. O estudo destaca: “os feirantes e pequenos produtores de confecção no Agreste Pernambucano, como em qualquer negócio, precisam estar atentos, pois a concorrência é acirrada. Têm que inovar em termos de mercadoria e de infraestrutura (como ocorreu em Santa Cruz do Capibaribe) constantemente para tornarem-se competitivos. A formalidade poderia ser um dos caminhos para alcançar esse objetivo”.

As informações coletadas na pesquisa demonstraram que o perfil dos feirantes é principalmente formado pelo gênero feminino e o principal elemento de competição é o baixo preço dos produtos. Se aprofundarmos essa análise, fica claro que uma economia informal traz uma redução para a arrecadação do Governo, comprometendo os investimentos em serviços públicos – os quais são de extrema importância para o desenvolvimento da região.

A chamada “indústria 4.0” já é realidade em outros países. A China é um exemplo da força dessa nova forma de produzir, com novas tecnologias que mecanizam a produção. Usando a ideia da produção em escala, o custo de produção de uma peça pode cair cerca de 90% quando produzida em grande volume. A importante fala de Ciro se justifica nesse fato. Se a precarização do Estado e o livre mercado tão falados pelos liberais estivessem corretos, a peça da China (super regulada) não chegaria mais barata em Caruaru do que a peça comprada na feira (pouco regulada). Mas chega. Como apontado pelo SEBRAE em 2013, as importações de confecções chinesas saltaram quase 90% no comércio exterior pernambucano. No município de Caruaru, segundo o estudo apresentado em 2017 pelo Congresso Internacional de Administração (ADM), a importação de produtos confeccionados na China já atinge 5 de cada 10 peças.

O ex-prefeito de Caruaru e atual deputado estadual Zé Queiroz reforça esta análise. Em falas recentes, pontuou que os feirantes de Caruaru precisam de estrutura para competir com os feirantes de Santa Cruz do Capibaribe.

Como também já citado por Ciro e segundo a pesquisa realizada recentemente pelo IBGE, empregos informais atingiram um número recorde e chegam a 41,4% da força de trabalho ocupada no país. São quase 40 milhões de brasileiros vivendo na informalidade, sem leis trabalhistas, sem garantias. Assim se escreve a tragédia brasileira, um país com o sistema tributário mais regressivo do mundo, com um modelo de previdência social que não se sustenta, e que tem metade do seu povo vivendo com apenas R$ 413,00 por mês. A informalidade no trabalho do nosso povo não é empreendedorismo. É sobrevivência.

Joana Grego – Presidente Juventude Socialista PDT Caruaru

Miguel Gomes – Secretário Geral Juventude Socialista PDT Caruaru

Pedro Leonel – Vice-Presidente Juventude Socialista PDT Caruaru

Américo Rodrigo

Ouça agora AO VIVO