Por Vanuccio Pimentel*
As eleições do próximo ano já provocam as primeiras movimentações no cenário político da cidade. O anúncio do retorno de Zé Queiroz à disputa municipal é uma notícia importante, pois se trata de uma das forças políticas tradicionais da cidade que ainda tem fôlego para uma disputa majoritária.
A conjuntura, no entanto, se apresenta com muitos pontos adversos que vão cobrar o seu custo em uma disputa majoritária, mas também é importante considerar que Zé Queiroz ainda possui alguns pontos a seu favor.
A atual conjuntura tem origem na eleição de 2016 com a vitória de Raquel Lyra. Naquele momento, houve uma maciça movimentação de eleitores de Zé Queiroz em direção à candidatura de Raquel ainda no primeiro turno. No segundo turno, este movimento se amplia, com o apoio oficial de Zé e Wolney.
Em 2020, com a desistência de Zé Queiroz em disputar a eleição, consolidou de vez esse quadro de migração. Com o agravante de que o eleitor mais fiel ao grupo não encontrou na candidatura de Marcelo Gomes o empenho e o engajamento que as forças tradicionais de oposição deveriam ter em um momento crucial.
O preço disso tudo foi alto. Raquel Lyra, virtualmente sem oposição, foi reeleita em primeiro turno e pavimentou o espaço para a sua vitória ao governo do estado em 2022. Para complicar, o fato de Zé Queiroz e Wolney não terem conseguido renovar o mandato foi bastante negativo, mesmo sendo atribuído ao isolamento do PDT na disputa majoritária.
No entanto, há pontos favoráveis que não podem ser ignorados. O primeiro é que Zé Queiroz não possui uma rejeição elevada e consolidada. É importante recordar que ele deixou o governo em 2016 com altas taxas de aprovação, um cenário diferente daquele enfrentado por Tony Gel em 2016, que precisou lidar com uma rejeição remanescente dos anos de 2007/2008, e que foi crucial para a vitória de Raquel Lyra em 2016.
Outro ponto positivo é que Zé Queiroz continua sendo a figura política mais competitiva do campo da centro-esquerda na cidade. É notória a dificuldade das demais forças de esquerda em construir uma candidatura competitiva.
Também é importante considerar o fato de que Zé Queiroz possui autonomia partidária. Ele comanda o PDT estadual junto com Wolney e possui amplo respaldo na executiva nacional. Essa autonomia permite que ele se lance candidato sem a necessidade de anuência ou a interferência de outros líderes do partido.
Esse fato é muito importante, pois, caso não consiga reunir as forças de centro-esquerda em torno de sua candidatura, ele tem autonomia de construir uma aliança mais ao centro, atraindo outras forças para além da esquerda. O fato de o PSB local já ter feito a escolha de seguir com Rodrigo é um sinal que pode significar dificuldades na formação de uma plataforma de centro-esquerda.
Dessa forma, atrair a federação PT-PCdoB-PV deve ser algo prioritário para Zé Queiroz, pois garante maior envergadura política ao palanque com a presença de Lula e com maior tempo de TV/Rádio. O PT viveu um dos melhores momentos de sua vida política na cidade enquanto esteve no governo de Zé Queiroz, é natural que isso pese no momento de tomar alguma decisão.
Os próximos meses serão decisivos para os movimentos que ainda podem alterar a conjuntura local. E qualquer mudança de conjuntura promove vitórias e pode sedimentar algumas derrotas. Porém, uma coisa é certa: Zé Queiroz não é peça fora do baralho e nem pode ser subestimado.
*Mestre e doutor em Ciência Política (UFPE)