Por Vanuccio Pimentel*
Que no “País de Caruaru” as coisas funcionam um pouco diferente, não é muita novidade. Porém, alguns fenômenos políticos têm chamado a atenção de quem analisa as pesquisas eleitorais. Hoje, 29 de julho, foi divulgada mais uma rodada de pesquisas realizadas pelo Instituto Simplex que mediu a intenção de votos para prefeito em Caruaru.
Como é natural, a divulgação provocou movimentações entre os apoiadores dos grupos políticos na cidade e sempre gera discussão e debates acalorados. No entanto, é muito mais saudável analisar as pesquisas feitas pelo Instituto Simplex a partir do comparativo entre pesquisas já realizadas.
Nesse sentido, o instituto já divulgou três pesquisas em Caruaru. A primeira em Julho de 2023, a segunda em Maio de 2024 e a última em Julho de 2024. Um fato tem chamado a atenção de quem observou os cenários espontâneos das últimas pesquisas. A título de informação, o cenário espontâneo é aquele no qual o entrevistador pergunta ao entrevistado em quem ele pretende votar nas eleições, sem oferecer nenhuma lista prévia para o entrevistado. Em outras palavras, o eleitor expressa o primeiro nome que vem à sua mente.
Essa comparação revela uma realidade bem interessante: a queda contínua e vertiginosa do prefeito Rodrigo Pinheiro no cenário espontâneo. O fato chama a atenção porque o prefeito tem ocupado bem os espaços de mídia desde que assumiu a prefeitura. Além disso, foi alvo de bastante visibilidade nos festejos juninos de Caruaru.
A queda na intenção de voto espontânea, como mostra o gráfico abaixo, é bem elevada para alguém que ocupa o cargo e disputa a reeleição. A diferença acumulada é de quase sete pontos percentuais.
Rodrigo Pinheiro tinha 28,3% da intenção espontânea em julho de 2023, passou para 23,2% em maio de 2024 e caiu para 21,6% em julho de 2024. São números impressionantes.
Ao mesmo tempo, Zé Queiroz saiu de 3,6% em Julho de 2023, passou para 11% em maio de 2024 e subiu para 15,8% em julho de 2024, o que representa um crescimento de 12,2% entre o primeiro e o último levantamento.
Quando se incluem os dados dos indecisos, brancos e nulos, o cenário ganha outros contornos. Os indecisos diminuíram de 53,5% em julho de 2023 para 48,6% em julho de 2024, já os brancos e nulos aumentaram de 3,6% para 10,7%.
Portanto, a diminuição no percentual de indecisos não é suficiente para explicar o crescimento de mais de 12% de Zé Queiroz. A explicação mais razoável é a de que o crescimento de Zé Queiroz vem dos indecisos e das intenções de voto de Rodrigo Pinheiro. Ou seja, Zé Queiroz tem tirado eleitores de Rodrigo Pinheiro. Eis um fenômeno interessante.
Não é comum que esse tipo de situação aconteça, mas há casos bem conhecidos de candidatos que tiram eleitores do concorrente. Há dois exemplos bem conhecidos: a eleição de Eduardo Campos em 2006 e o segundo turno entre Lula e Alckmin também em 2006. Em ambos, Alckmin teve menos votos entre o primeiro e o segundo turno, já Mendonça Filho também perdeu muitos votos para Eduardo Campos entre o primeiro e o segundo turno.
O caso do “País de Caruaru” chama atenção por um único fato: a campanha ainda nem começou.
*Doutor em Ciência Política (UFPE) e professor adjunto II – Asces-Unita