Corregedoria pede expulsão de policial dono de clube de tiro alvo da PF em Caruaru

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Publicado por Karol Matos
24 de março de 2023 às 08h15min
Foto: Karol Matos

Do g1 Pernambuco

O policial civil acusado de vender armas de fogo de forma ilegal em um clube de tiros em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, considerado o maior do Brasil, teve a demissão pedida pela Corregedoria-geral da Secretaria de Defesa Social (SDS).

A solicitação foi feita porque o agente licenciado, Diego de Almeida Soares, tem empresas privadas em seu nome e participava da administração do CTA Clube de Tiro e da loja Shop do Atirador. Segundo a corregedoria, isso fere o estatuto dos policiais civis.

Presidente da Associação dos Policiais Civis de Pernambuco, Diego ficou conhecido por ser alvo de uma operação da Polícia Federal e um dos personagens de uma reportagem do “Fantástico”, da TV Globo, veiculada no domingo (19). Ele também é réu em processos que envolvem falsidade ideológica e uso de documento falso.

O pedido de demissão de Diego Almeida Soares foi publicado no Boletim-Geral da Secretaria da SDS, na terça (21). Segundo a pasta, a decisão final sobre a demissão será da governadora Raquel Lyra (PSDB), como determinam as leis estaduais.

No texto do boletim, a secretária estadual de Defesa Social, Carla Patrícia Barros da Cunha, diz que foram acatadas a sugestão da 5ª Comissão Permanente de Disciplina Polícia Civil, o parecer da corregedora auxiliar civil, o parecer técnico da assessoria da Corregedoria Geral e o despacho homologatório da Corregedora Geral da SDS. Todos esses documentos apontam para a pena de demissão.

Em entrevista ao g1, o chefe da assessoria da Corregedoria-geral da SDS, Graham Bentzen, explicou que é preciso analisar o caso de Diego nos âmbitos criminal e administrativo.

Segundo ele, o pedido de demissão entra na questão administrativa da SDS e foi feito por causa das atividades dele no clube de tiros, o CTA.

“É uma empresa privada e Diego exercia funções administrativas. Também trabalhava com comércio. São questões proibidas. Ele só poderia ser cotista da empresa”, afirmou.

Bentzen disse, ainda, que a investigação sobre o clube de tiro feita pela PF também permitiu a abertura de outro processo administrativo em Pernambuco.

“A questão criminal, nesse caso, é com a Polícia Federal. Caso ele também seja punido administrativamente nesse caso da investigação da PF, será mais uma na ficha dele”, observou.

O chefe da assessoria da Corregedoria-geral da SDS afirmou, ainda, que não existe um prazo definido para a governadora tomar a decisão final.

“A procuradoria-Geral do Estado vai analisar o caso e depois o documento seguirá para o governo. Caso ele seja demitido, perderá todas as prerrogativas de policial, salário, armas e equipamentos”, acrescentou.

O policial foi preso pela Polícia Federal em 2022. Passou quatro meses na cadeia e foi solto em fevereiro deste ano.
O clube tiros foi fechado e a PF apreendeu 2.555 armas. Segundo a corporação, essa é a maior apreensão dos últimos dez anos.

Diego será julgado pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5) pelos crimes de falsidade ideológica, uso de documento falso e comércio ilegal de arma de fogo.

O TRF5 também aceitou o pedido da Polícia Federal em Pernambuco para que as armas apreendidas em Caruaru sejam doadas para a PM do estado. Diego ficou milionário com os empreendimentos, de acordo com as investigações da PF. O patrimônio saltou de R$ 390 mil, em 2018, para R$ 60 milhões, em 2021.

Ainda segundo a PF, Diego tinha o maior clube de tiros do Brasil, com 8 mil associados, e oferecia um pacote completo com assistência jurídica, armas e treinamento para os associados.

Na época da prisão, Diego estava construindo mais três clubes, com loja e serviços de manutenção. Um deles seria para tiros de fuzil.

Segundo as investigações, o CTA Clube de Tiro tinha associados em todo o Brasil e agilizava a filiação deles em clubes de diferentes estados. Era uma manobra para os filiados circularem pelo país com armas carregadas.

A reportagem do “Fantástico” mostrou também como o acesso a licenças para caçadores, atiradores desportivos e colecionadores de armas, os CACs, facilitou que fuzis fossem parar legalmente nas mãos de traficantes.

O governo de Jair Bolsonaro (PL) autorizou os CACs a levar armas municiadas ao clube, a competições, a caçadas e a exposições de coleção. O governo Lula (PT) proibiu que essas pessoas se desloquem com armas municiadas.

A Polícia Federal também apontou que o clube de tiros facilitava que pessoas com antecedentes criminais conseguissem o registro de CACs. Em uma gravação da PF, um associado conta que foi detido depois de beber e atirar.

A defesa de Diego disse para a TV Globo que a demissão “contraria a legislação”. Também afirmou que a decisão da corregedoria é “prematura, apressada e incompatível” e que o policial tem direito à ampla defesa e ao contraditório.

O advogado Ricardo Rêgo Barros disse ainda que seria “prudente” aguardar as conclusões do processo penal na Justiça e só assim adotar as devidas providências.

Karol Matos

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