A ‘máquina política’ da Frente Popular em Pernambuco 

Opinião
Publicado por Américo Rodrigo
19 de maio de 2022 às 08h00min
Foto: Divulgação Asces/Unita

Por Vanuccio Pimentel*

O cenário de indefinição das eleições estaduais tem provocado muito debate. A entrada de Marília Arraes na disputa mexeu com as estratégias de todos os pré-candidatos e colocou dúvidas sobre a viabilidade de alguns nomes.

O nome de Danilo Cabral tem chamado atenção dos analistas em razão da baixa pontuação apresentada nas últimas pesquisas. Pretendo aqui explorar um pouco mais a situação da Frente Popular e sobre a viabilidade de Danilo Cabral como candidato ao Governo de Pernambuco.

Apesar de toda essa imprevisibilidade, duas situações têm se tornado cada dia mais evidentes: a primeira é de que esta disputa será muito mais competitiva do que as últimas duas eleições (2014 e 2018). E a segunda é de que a geografia do voto será um elemento determinante.

Entre todos os partidos em Pernambuco, o PSB talvez seja o que melhor conheça a importância da geografia do voto na eleição estadual. A partir das eleições de 2006, Eduardo Campos traçou a estratégia de ampliação da Frente Popular, abarcando antigos adversários e partidos ideologicamente diferentes. O objetivo era diminuir o espaço político da oposição e exercer dominância eleitoral sobre todas as regiões do estado.

A dominância é um conceito chave na geografia do voto, pois significa o controle do processo político nos municípios com o objetivo de extrair o máximo de votos possível. Assim, Eduardo Campos criou uma “máquina política” muito difícil de ser derrotada, pois estava assentada no sufocamento da oposição e na dominância eleitoral nos municípios.

Com a morte de Eduardo Campos, esta “máquina política” começa a enfrentar os principais problemas: dificuldades de coordenação política e perda de dominância sobre o território. O ponto mais grave reside no enfraquecimento do controle sobre o processo político em municípios importantes.

Para compreender a geografia do voto em Pernambuco, é preciso fazer uma divisão do eleitorado em dois grupos: o primeiro grupo representa 50,32% do eleitorado concentrado nos 14 maiores municípios; o segundo grupo representa 49,88% do eleitorado distribuído em 171 municípios.

O maior prejuízo acumulado até agora está no grupo dos 14 maiores colégios eleitorais do estado (50,32% dos eleitores). Neste grupo de municípios, o PSB só está no poder em dois (Recife e Garanhuns), os demais estão sob o controle da oposição.

Percebam que todos os pré-candidatos da oposição são oriundos de municípios deste primeiro grupo. Anderson Ferreira de Jaboatão dos Guararapes (segundo maior colégio eleitoral), Raquel Lyra de Caruaru (quinto maior colégio eleitoral), Miguel Coelho de Petrolina (sétimo maior colégio eleitoral), e por fim, Marília Arraes do Recife que disputou contra o PSB o maior colégio eleitoral do estado.

Primeira conclusão: A baixa densidade – momentânea – de Danilo Cabral reside na dificuldade da Frente Popular de capilarizar o candidato nos maiores colégios eleitorais do estado, que estão infestados de pré-candidatos da oposição.

O outro grupo que representa os demais 171 municípios (49,88% dos eleitores) possui uma situação muito diferente. Os municípios menores possuem forte dependência política da estrutura do Governo do Estado.

Neste grupo, o PSB possui ampla dominância sobre o processo eleitoral dos municípios. Em todos eles, o PSB controla uma das forças políticas locais, e em muitos casos, controla as duas principais forças (governo e oposição).

Segunda conclusão: É neste grupo de municípios menores que Danilo Cabral terá maior capilaridade, que tende a representar boa parte da musculatura eleitoral que ele vai apresentar no primeiro turno.

Portanto, é plausível acreditar que ao longo dos próximos meses, Danilo Cabral deve apresentar crescimento sustentado nas intenções de voto, visto que uma massa significativa de eleitores ainda será recrutada pelas forças políticas locais, movimentando toda a engrenagem de interesses locais em favor da candidatura da Frente Popular.

O maior desafio da Frente Popular está no segundo turno. Considerando a possibilidade clara de Danilo Cabral chegar ao segundo turno, ampliar a votação nos maiores colégios será tarefa crucial. E a depender de quem for para a disputa contra o PSB no segundo turno, será uma tarefa difícil.

*Doutor em Ciência Política, professor adjunto II da Asces-Unita e coordenador do curso de Relações Internacionais

Américo Rodrigo

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