Fagner Fernandes vira o pacificador da oposição

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Publicado por Karol Matos
19 de novembro de 2021 às 12h02min
Foto: Diego Figueiredo

Em meio à conturbada sessão que aconteceu ontem (18), na Câmara de Caruaru, onde foi aprovado o requerimento de anteprojeto para proibir o uso da linguagem neutra nas instituições de ensino de Caruaru, o líder da oposição, Fagner Fernandes (PDT), tomou para si a responsabilidade de apagar o incêndio dentro do próprio grupo.

O vereador bolsonarista Cabo Cardoso (PP), propositor do requerimento, mobilizou conservadores ligados à igreja evangélica, que foram até a Casa demonstrar apoio com cartazes pedindo que deixem as crianças “em paz” e afirmando que “ideologia de gênero é pedofilia”. Em sua justificativa, Cardoso citou públicos que, segundo ele, seriam prejudicados com o uso da linguagem neutra que chamou de “aberração gramatical”.

“O vereador Cabo Cardoso é totalmente contra esse tipo de ensino nas escolas. E muita gente diz que é uma linguagem inclusiva, quando na verdade não é, porque a população deficiente, os cegos, os surdos, os autistas, os disléxicos, terão grande dificuldade de aprender uma aberração gramatical, posso dizer assim. Isso é uma afronta à norma culta gramatical, assim como nós aprendemos nas escolas”, disse.

Vale destacar que não houve registro, até o momento, de qualquer situação onde esteja sendo utilizada a linguagem neutra em instituições de ensino de Caruaru. Ainda em sua fala, Cardoso afirmou: “ninguém vai nos calar aqui dentro”. Isso porque a matéria já tinha sido apresentada como projeto de lei pelo parlamentar com o mesmo conteúdo apresentado ontem, mas recebeu parecer desfavorável do jurídico e, consequentemente, da Comissão de Legislação e Redação de Leis.

A justificativa foi a incapacidade da Câmara legislar sobre isso, já que deve ser uma iniciativa do Executivo, ressaltando que “não adentrou no mérito da cientificidade dos estudos linguísticos da Língua Portuguesa, devendo os estudiosos e cientistas da área ultimarem quando da correção ou não da adoção da linguagem neutra ou não binária, não cabendo à presente Consultoria Jurídica Legislativa dizer se sua adoção é ou não certa”.

Cabo Cardoso, então, fez um requerimento de anteprojeto de lei. A proposta foi apresentada ontem e, durante a tarde, ele conseguiu fazer um movimento para que fosse votada na mesma sessão. Mas, por se tratar de um requerimento, se nenhum vereador pedisse “destaque”, ele seria votado em bloco, ou seja, junto com todo o resto. A outra integrante da oposição, Perpétua Dantas (PSDB), que já milita em movimentos sociais há anos e tem um histórico de atuação política junto à esquerda, fez a solicitação para que o anteprojeto fosse separado, o que faria com que cada um dos vereadores votassem nominalmente, expor a opinião e trazendo ainda mais polêmica.

Os ânimos durante a discussão foram se exaltando, principalmente pela pressão dos conservadores presentes, que aplaudiam ou criticavam as falas favoráveis do Cabo Cardoso e contrárias de Perpétua. Ao iniciar o segundo expediente, quando a matéria seria propriamente votada, Fagner, que até então não havia interferido no assunto, pediu um intervalo de cinco minutos para fazer uma reunião entre os três integrantes da oposição.

Com o argumento de que não valia a pena entrar no mérito dessa confusão, e que era melhor “deixar isso para lá”, o líder conseguiu convencer Perpétua de desistir do destaque, o que fez com que a matéria fosse aprovada em bloco, sem que os vereadores precisassem se posicionar e arrumassem mais um problema para resolver depois.

Karol Matos

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