PL e Republicanos escancaram insatisfação com o Planalto

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Publicado por Karol Matos
29 de agosto de 2021 às 17h30min
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom

O Globo

Declarações fortes e gestos silenciosos da semana passada revelam que dois dos três principais partidos do Centrão que sustentam o presidente Jair Bolsonaro no Congresso decidiram escancarar sua insatisfação com o Planalto. Enquanto Ciro Nogueira e Arthur Lira, do PP, elevam a sua influência a cada dia que passa, o PL, de Valdemar Costa Neto, e o Republicanos, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, não escondem mais a possibilidade de abandono do projeto da reeleição em 2022.

Nos últimos dias, dois deputados do PL expuseram nas redes críticas ao ministro da Economia, Paulo Guedes, antes restritas às rodas de conversas de parlamentares. Altineu Côrtes, líder da legenda no Rio, disparou para a sua lista de contatos no WhatsApp um vídeo pedindo a saída de Guedes por minimizar o aumento nas contas de luz. “Olha, ministro, o senhor está atrapalhando o governo Bolsonaro”, disse. No mesmo dia, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), foi ao Twitter e também atacou Guedes, por sua “desconexão com a realidade do povo”.

O PL está incomodado com Bolsonaro depois de entender que a nomeação de Flávia Arruda na Secretaria de Governo, em março, pouco significou para a sigla. Em um primeiro momento, o antecessor de Flávia na pasta, o ministro Luiz Eduardo Ramos, não a deixou fazer todas as nomeações que gostaria na articulação política. Depois, com a chegada de Ciro Nogueira à chefia da Casa Civil, a ministra perdeu de vez a chance de exercer qualquer protagonismo na relação do Planalto com o Congresso.

Em conversas, o PL externa abertamente que quer mais espaço no governo. Ao longo do ano, Altineu Côrtes já defendeu a recriação do Ministério do Esporte, hoje uma secretaria na pasta da Cidadania. A ideia, contudo, jamais avançou. Foi, aliás, justamente de um nome consagrado do esporte brasileiro que surgiu mais um petardo recente do PL contra um integrante da equipe de Bolsonaro. Há duas semanas, revoltado com a fala do ministro da Educação, Milton Ribeiro, que disse que a convivência de crianças com necessidades especiais atrapalha as outras, o senador Romário (RJ) o chamou de “imbecil” para os seus seguidores no Twitter.

Ao contrário do partido de Valdemar Costa Neto, o Republicanos é mais discreto nos sinais de insatisfação. A legenda, que comanda o Ministério da Cidadania com o deputado João Roma, chegou a ter um estilo mais questionador no auge da crise da Universal em Angola, quando, em maio, líderes da igreja foram denunciados no país por lavagem de dinheiro e pastores acabaram expulsos e mandados de volta para o Brasil. O homem forte do bispo Edir Macedo na Universal, o seu genro Renato Cardoso, passou a aparecer em vídeos na TV Record criticando a “omissão” do governo brasileiro no episódio.

O Planalto fez dois movimentos para tentar reatar as relações com a igreja desde então: enviou o vice-presidente Hamilton Mourão a Angola para tentar abrir diálogo com o governo local; e indicou o ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella para uma Embaixada na África do Sul. As iniciativas, no entanto, não surtiram efeito, e a relação com a igreja seguiu ruim.

A maior demonstração de falta de engajamento da Universal com Bolsonaro pode ser percebida na mobilização que está sendo feita pelos evangélicos para as manifestações de 7 de Setembro. Enquanto pastores como Silas Malafaia têm articulado abertamente para colocar milhões de fiéis nas ruas em apoio ao presidente, a igreja de Edir Macedo está em silêncio sobre os atos. Ao ser perguntado sobre como enxerga as manifestações que vêm por aí, Marcos Pereira, presidente do Republicanos, diz estar preocupado com a possibilidade de incidentes nas ruas.

Há ainda mais um fator a explicar a má vontade da Universal com Bolsonaro. De um ano para cá, o chefe do Executivo escolheu Malafaia como seu principal interlocutor no segmento evangélico. O pastor tem histórico recente de ataques à igreja de Macedo. No ano passado, chamou de “nojento” o apoio da denominação à nomeação de Kassio Nunes Marques ao Supremo Tribunal Federal (STF) — hoje, Malafaia faz o mesmo pelo ex-advogado-geral da União André Mendonça. Em outro momento, também disse que Bolsonaro apoiar Crivella para prefeito do Rio foi um “erro”.

Karol Matos

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