“A Covid-19 silenciou mais de 337 mil vidas. Vai deixando um rastro de dor na história do país e uma necessidade enorme de refletirmos sobre valores e comportamentos que movem nossa sociedade.
Nas escolas, o cenário é de terra arrasada. Sem coordenação nacional, a educação pública, em seu nível básico, transformou-se em um exercício de improviso. Um invólucro de incertezas e ansiedades em um panorama de mortes e aprofundamento das desigualdades.
Professores, coordenadores, gestores e toda a equipe escolar têm se superado em esforço e criatividade frente aos desafios das aulas remotas. Mas no geral, as secretarias estaduais e municipais não conseguiram fazer o básico para que as aulas possam existir, conectar professores e estudantes.
Em Caruaru, a falta de planejamento e organização transformou as aulas na pandemia em uma espécie de “eu finjo que existo e você finge que me vê”. Em meio a esse caos, professores utilizam a sua internet, seu computador, seu WhatsApp e sua vida privada para manter, de alguma forma, o aprendizado vivo.
São turmas com mais de trinta estudantes matriculados, mas apenas sete, oito estudantes têm condições de acompanhar as aulas remotas. A educação especial e os estudantes da zona Rural sofrem em dobro com esse cenário. Nos últimos dias ouvi diversos alunos dizendo: “professor, eu não assisti uma aula ano passado e fui aprovado”. Grave! As consequências pedagógicas, econômicas e sociais irão ecoar por anos.
É fato que nenhuma estrutura educacional de ensino estava preparada para essa situação. Ao mesmo tempo, não vamos esquecer que tal cenário perdura por um ano e sem uma previsão objetiva de quando iremos superar. Já deveríamos ter acumulado experiência, diagnósticos e estratégias para enfrentar a situação nas escolas públicas. A impressão é de que não estamos aprendendo nada com a situação. Isso sem falar na distribuição atrapalhada e irregular da merenda, marcada por total desrespeito aos direitos fundamentais da criança e do adolescente.
Falta eleger conteúdos prioritários. Dar formação e suporte tecnológico, psíquico e teórico aos professores, pais, mães e estudantes. Mas o sentimento que fica é de uma Secretaria de Educação mais preocupada com a burocracia escolar do que com a relação ensino aprendizagem.
Enquanto isso, a Comissão de Educação da Câmara é um peso morto. Existe apenas para aprovar os projetos do executivo. É urgente! A prefeita Raquel Lyra precisa assumir o compromisso e colocar professores e professoras como prioridade na vacinação. A educação não pode esperar.”
Daniel Finizola
Professor e artista