“Na minha juventude o que mais inspirava era ter um curso superior, ser um universitário, ser o FERA, minha cidade tinha duas instituições, de um lado a FAFICA (Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Caruaru), com 04 (quatro) cursos: História, Pedagogia, Ciências Sociais e Letras, do outro lado a Sociedade Caruaruense de Ensino Superior, a tão sonhada Universidade do Agreste com 02 (dois) cursos: Direito e Odontologia. Acho que essa história tem a ver com muita gente desta cidade e de todo seu entorno.
Ambas entidades sem fins lucrativos, uma de origem política, de um homem nascido em Caruaru que sonhou em transformar estes cursos em uma futura universidade que atendesse toda uma região, a outra de origem religiosa, mais precisamente católica da qual quero me deter a partir de agora. Ali se vivenciava a vida pedagógica, mas também a social, jogos escolares e etc.
Fechar uma universidade do porte físico estrutural, do porte pedagógico da FAFICA, faz-nos analisarmos e chegarmos a uma conclusão de que fatos, e não apenas um fato isolado, levou ao trancamento da tão importante instituição. Dizer que as dificuldades financeiras causadas pela pandemia é o motivo, é querer achar que a infinidade de pessoas que por ali passaram não tem capacidade de analisar o mínimo.
Dizer isto é achar que a cidade não tem pessoas capacitadas a verem o descaso que se transformou a entidade, vejamos:
a entidade era sem fins lucrativos, mas o público que procurava tinha que ter uma visão de vida, de mercado; o mundo corria em uma velocidade anos luz, atualizava-se, investia-se na modernização, em equipamentos etc.
A entidade caminhava a passos de tartaruga, fechava-se em princípios internos religiosos, tradicionais, com visões restritas; enquanto outras instituições cobravam do seu quadro docente atualização, aprofundamento, sobretudo qualificação, a entidade economizava, substituindo um docente por outros, com menos custos.
O que esperar de uma instituição que pretende formar cidadãos para a vida, que não investe na sua própria estrutura. Das entidades de ensino desta cidade, a FAFICA é a de arquitetura mais bonita que conheci, porém ultimamente só demonstrava abandono, descaso. Simplificaria dizendo o que sempre digo: faltava uma dona de casa para zelar por sua aparência.
Mas, não vou só cobrar da instituição isoladamente neste episódio: a Diocese, porque não ver sua real função, a de ver os podres em primeiro lugar, a função social das faculdades que representa. Porque não usa a criatividade junto aos poderes público para chegar ao fim comum, como por exemplo: procurar o município, o estado e fazer no expediente ocioso um colégio de aplicação, uma parceria entre as entidades e transformar em uma escola mista entre público e privado a ponto de dividir despesas e custos e viabilizar o seu funcionamento, pois isto me parece muito mais falta de competência de gerir que propriamente dificuldades de manter, o bom administrador está na dificuldade, pois gerir com recursos sobrando é fácil. Poderíamos até questionar o colégio diocesano será a próxima vítima ou a administração é outra e essa está dando lucro?
O poder público tem que se posicionar, pois, a lacuna deixada por uma perda desta é incalculável para os munícipes, para o desenvolvimento sócio- econômico e cultural, um dos lemas do município e “revolucionar Caruaru pela educação”, como não se posicionar nesta hora, acredito que a prefeita Raquel Lyra irá se posicionar neste momento, e junto a outras entidades com a diocese tentar achar uma solução; os clubes sociais que tem sempre prestado, relevantes serviços a sociedade, precisa se posicionar, precisa levar ideias, fazer movimentos e tentar não deixar se concretizar essa catástrofe educacional e social.
A imprensa. Fico imaginando se fosse uma escola pública, ao invés de lamentações se não estaria sendo cobrada a explicação política, questionamentos financeiro, posições sociais. As redes sociais, que se mobilizam para transformar as vidas das pessoas, para encurtar as distâncias, para informar os cidadãos do aqui e do agora.
Os ex-alunos que através da FAFICA transformaram suas vidas, começaram, ali suas carreiras, iniciaram sua vida acadêmica a partir dela. Esta é a hora de se mobilizar, de se juntar esforços, de se unir forças e desmontar o absurdo da desmobilização de sessenta anos de uma entidade que muito orgulhou a cidade de Caruaru. Quero com isto apenas registrar a dor de perder uma referência que me acompanha desde a adolescência.”
Valter Costa é servidor público municipal e estadual, também cursou: História, Ciências Sociais, Ciências Contábeis e é Pós-graduado em Contabilidade e Controladoria, todos na FAFICA; estudante do 8º período de Direito da ASCES-UNITA