“Estamos vivendo uma tempestade jamais vista na história. A pandemia do novo coronavírus mostrou que não podem existir limites ideológicos ou geopolíticos diante de problemas maiores. O diálogo entre o global e o local se faz cada vez mais presente. É preciso resolver no município questões que têm conotação mundial. Para isso, é necessário calcular riscos e tomar decisões.
O filósofo Yuval Noah Harari aponta a ausência de lideranças no mundo atual. Segundo ele, somente a solidariedade e a confiança poderão apresentar sinais reais de esperança. Em um contexto local, essa análise nos traz a lição de que é preciso expandir a interlocução com os mais variados setores. Os bons líderes são revelados em momentos de tempestade.
Em Caruaru, todavia, prevalece a indefinição. A resolução de assuntos de grande importância para o município tem sido procrastinada. Fica uma dúvida se o motivo para o silêncio é desídia ou inabilidade. Um exemplo são as festas juninas. Enquanto outros municípios de Pernambuco e de estados vizinhos já suspenderam a festa, o São João de Caruaru permanece com destino incerto. Artistas, comerciantes, as redes turística e hoteleira, entre outros segmentos, continuam com dificuldades para implementar estratégias, devido ao impasse promovido pela gestão, que sequer sinaliza se adiará ou cancelará o evento deste ano. Há rumores de que um anúncio de um possível adiamento acontecerá no início do próximo mês, e que os artistas de ‘fora’ estariam cientes e gravando chamadas para a nova data – fato que o povo de Caruaru não teria sabido se não fosse o trabalho investigativo da imprensa, já que a Prefeitura não entrou em diálogo aberto e transparente com a classe artística da cidade neste sentido.
Os rumos da Feira da Sulanca também continuam como uma incógnita. Milhões de comerciantes e de compradores aguardam sinalização de quando deverá haver uma possível retomada dos negócios. Ou, caso o momento para o retorno seja indefinido, quais alternativas são oferecidas pela gestão municipal? Como o posicionamento da gestão é ignorado pelo conjunto da sociedade, as fake news se disseminam pelas redes sociais. A resposta do governo municipal é através de frias notas oficiais.
Outra dificuldade é o tratamento com sensibilidade para com as pessoas diante do momento. A ideia de ordenar o fluxo e evitar aglomerações em frente a agências bancárias é louvável, mas a falta de profissionais nos momentos de chegada do público aos bancos é uma falha básica, que foi vista na manhã desta quarta-feira (29). O município de Petrolina, por exemplo, conseguiu administrar a situação, dando uma ‘aula’ de administração pública neste assunto.
Também é urgente pensar e agir sobre o retorno pós-pandemia. A história da humanidade mostra que em cenários após pandemias, o conceito de normalidade passa por modificações, pois há um processo de readaptação. Como será a nova dinâmica das atividades culturais, como os festejos juninos ou festas religiosas e outros eventos? E como ficarão as feiras? De que forma a Educação será reinventada no município? São perguntas que ainda estão sem respostas, e a cidade parece estar como um barco sem leme, à deriva, desgovernada.”
Erick Lessa é deputado estadual, presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico e Turismo, coordenador-geral da Frente Parlamentar de Segurança Pública e integrante das comissões de Administração Pública, Negócios Municipais e Assuntos Internacionais da Assembleia Legislativa de Pernambuco