Estudante de Caruaru é ouro na Olimpíada de Língua Portuguesa

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Publicado por Américo Rodrigo
12 de dezembro de 2019 às 13h48min
Foto: Arnaldo Felix

Com a crônica “Escola fábrica, fábrica escola”, o estudante Jairo Bezerra, de 14 anos, matriculado no 8° Ano da Escola em Tempo Integral Álvaro Lins, recebeu o ouro da Olimpíada de Língua Portuguesa (OLP) 2019. O medalhista, que foi orientado pelo professor Walber Barreto, trouxe classificação inédita na história do município.

O estudante se destacou entre cerca de 40 alunos de 8º e 9º anos do Ensino Fundamental e seus professores, de todas as regiões do país, que concorreram com mais de 171 mil alunos inscritos de 42.086 escolas. Foram 4.876 municípios com 85.908 professores participantes.

“Estamos muito felizes com o reconhecimento. Eu e o meu professor fomos confiantes e voltamos vitoriosos, graças a Deus. Com a medalha, eu entendi que a escrita também é uma arte de se comunicar, para mim é uma fotografia sem clique. Agora eu já estou me preparando para novos desafios”, comemorou o garoto.

A Olimpíada de Língua Portuguesa é um concurso bienal de produção de textos para alunos de escolas públicas. Este ano trouxe como tema “O lugar onde vivo” e oportunizou os estudantes a estreitarem os vínculos com a comunidade, aprofundando assim, o conhecimento sobre a realidade local e contribuindo para o desenvolvimento da cidadania.

Confira o texto campeão da Olimpíada de Língua Portuguesa:

Escola fábrica, fábrica escola

“6h – despertador toca, sono, frio, eu me acordo, meu pai se acorda. Banho, escovar os dentes, colocar o uniforme, eu e meu pai. Trânsito, asfalto, semáforos, tudo de uma cinza idêntico, nunca notei a diversidade de tons sem vida que existem na cidade. Só diferimos no lugar, eu vou para escola e meu pai para a indústria, mas no fim é tudo igual. Eu entro na escola e meu pai bate o ponto na fábrica, eu vou para meu assento e meu pai para sua máquina. O professor fala, as máquinas rugem, lápis, papeis, óleo, engrenagens, é tudo igual. Os funcionários não sorriem, querem seus salários; os professores estão exaustos, querem seus salários, para gastar com as mesmas coisas mês após mês. As mercadorias não pensam, não falam, são modeladas; os alunos, não pensam, repetem, não criam, reproduzem o que lhe é passado, SILÊNCIO!! Não podem falar. Números e letras sem cores, nos computadores e nos livros, nas planilhas e nos cadernos, é tudo igual. Os quadros se enchem, os cadernos se escrevem, as planilhas se preenchem, os gráficos estão cheios, é tudo igual. O professor fala, escreve, ensina o que nós não vamos aprender, apenas fingir saber. O gerente passa, e os funcionários sorriem, satisfeitos em fingir satisfação e manter seu emprego e sua dignidade (dinheiro). As mercadorias são revistadas, as sem defeitos passam a diante e as demais retornam; a criatividade é tamanha que não mudaram nem o nome “série de produção”; os alunos também têm seus números de série, uma lista de chamada, são números, é tudo igual. Os sinos tocam, não são das igrejas, hora da refeição, fila no refeitório, hora do intervalo, celulares em mão, eu estou online e desconectado no mundo, meu pai está online e desconectado do mundo, sirenes tocam, hora de voltar, é tudo igual. Acabou, guardar materiais, pressa para finalizar um dia sem pensar que o próximo será igual. Carros, buzinas, placas, motos, uma gigante massa inerte de pessoas apressadas, é tudo igual. Chego em casa, Wi-fi, me desconecto do mundo na rede; meu pai na televisão; minha mãe prepara o jantar; anúncios, propagandas, nos movem para um novo dia, estudo para ter um futuro, um futuro de compras, tudo igual. A noite desce, como a noite anterior, AMANHÃ TEM AULA, VAI DORMIR!!, é tudo igual. Eu vou para a escola fábrica e meu pai para fábrica escola. A única diferença entre a fábrica e a escola é o ambiente escuro, quente e mal iluminado da primeira, talvez a escola não seja assim para que os alunos sobrevivam até chegar na fábrica.”

Américo Rodrigo

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