Para muita gente a decisão do PT de indicar a candidatura de Marilia Arraes para disputar a Prefeitura do Recife nas eleições de 2020 pode ter sido uma surpresa. Depois de ter sua indicação para a disputa ao governo de Pernambuco em 2018 rifada pela executiva nacional, que optou por retomar a aliança com o PSB em Pernambuco, muita gente acreditava que a aliança com o PSB seguiria como prioritária. Mas algo mudou.
O que mudou é que a realidade bateu à porta. As eleições de 2018 confirmaram o que já se anunciara em 2016: um forte deslocamento do eixo de apoio do PT que migrou do centro-sul para o Nordeste.
O PT chegou ao final das eleições de 2018 com a menor bancada que já possuiu na Câmara dos Deputados: 58 deputados. Vale lembrar que já teve 91 em 2002. É válido ressaltar, entretanto, que esta diminuição também é um efeito do aumento da fragmentação partidária que se ampliou significativamente desde 2002.
Porém, o que chama atenção nos números é a distribuição dos parlamentares eleitores em 2018. Desde 1982, o PT tinha forte base eleitoral nos municípios do ABC paulista, berço do partido e da emergência da liderança política de Lula. Em 2016, o partido não conseguiu eleger nenhum prefeito na região do ABC. Em 2002, o PT elegeu 18 deputados federais por São Paulo, já em 2018 foram apenas 8 parlamentares eleitos.
Outro grande reduto em que o PT se destacou nacionalmente foi o Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre o PT dominou o cenário político de 1989 até 2004. E chegou a governar duas vezes o estado com Olívio Dutra e Tarso Genro. Em 2002, o PT elegeu 8 deputados, em 2018 foram 5 apenas. Em outros colégios do sul e do sudeste o resultado foi similar: no Rio de Janeiro foi eleito 1 deputado em 2018, contra 7 em 2002; em Santa Catarina, foi eleito 1 em 2018 contra 5 em 2002, e no Paraná, 3 em 2018 contra 6 em 2002.
Em compensação, o candidato do PT à presidência Fernando Haddad ganhou em todos os estados do Nordeste e o PT levou 21 deputados em um conjunto de 151 vagas de toda a região. Nesse sentido, a decisão da executiva em lançar candidatos próprios em todas as capitais, incluindo o Recife com Marilia Arraes, apresenta uma clara mudança na estratégia do partido.
O PT pretende ampliar a sua participação no Nordeste porque esta é a única região do país em que o partido tem potencial de crescimento no curto prazo. Ampliar a fatia de participação em disputas majoritárias e proporcionais no Nordeste é uma estratégia de sobrevivência política do partido e para isso se torna necessário transformar o apoio político acumulado na região em espaço político nacional.”
Vanuccio Pimentel
Doutor em Ciência Política
Professor da ASCES-UNITA